Mãe - Texto escrito por Erika Rosa








22 de março de 2010. Foi o primeiro dia ruim que tive que enfrentar sem a sua presença, mas sabia que haveriam outros dias péssimos e não teria seu acalanto para me acalmar e dizer que as coisas iriam melhorar. 


Há dias em que eu queria apenas ouvir a sua voz, ou ter minha comida preferida para alegrar os dias que não foram bons. Há dias em que eu tenho saudade de você falar para levar um guarda-chuva porque irá chover ou para tomar cuidado. Há dias em que eu queria ouvir sua bronca de como sou irresponsável e não perco a cabeça,pois está grudada. Há dias que eu queria ter os conselhos de mãe e medir a minha palma da mão na sua para ouvir a história que o tempo passa.


Nossa comunicação eram os beijos dados e os eu te amos ditos a todo momento. Você me dizia que eu era beijoqueira e gostava de ficar grudada em você, na verdade, eu sempre quis demonstrar o quão você era especial para mim, em vida. 


Tínhamos inúmeros planos de vida que não vão ser concretizados como viajar para João Pessoa, fazer cruzeiro, ir no show do Djavan, você dizia que estava ansiosa para eu completar 18 anos e tirar minha CNH para sairmos por aí. Hoje, tenho 24 anos, e ainda não tive coragem de tirar a minha carta, na verdade, existem muitas coisas que não faço depois da sua partida.





As vezes,  eu tenho a sensação que já passei por tudo que poderia passar, como se meu coração tivesse experimentado todos os sentimentos possíveis, e me sinto anestesiada por ser indiferente a rotina que acontece ao meu redor. Meu maior medo é me tornar alguém na qual você não aprovaria, é um medo bobo porque não sei a sua opinião. 




Você repetia a história que eu fui planejada em todos os detalhes, falava sobre a viagem do Rio, sobre a história do meu nome e do Hospital, e todo final de ano, você contava que começou a montar árvore de natal depois do meu nascimento porque eu era o motivo da sua alegria,  eu era seu maior presente. Me fazia me sentir amada e querida todos os dias, agora imagina não ter isso mais no cotidiano?


Eu te mantenho viva dentro de mim, tudo o que você falou e tudo que me ensinou, mesmo que sua feição não seja  mais tão nítida para mim, ou não consiga mais reconhecer seu perfume, te sinto tão próxima ao ponto de você poder escutar as batidas do meu coração.



E o mundo não parou após a sua partida, mesmo que eu quisesse dar uma pausada, eu aprendi na prática que a vida continua. Sinto sua falta na pele, alguns dias sua ausência se torna presente para mim. Quando estou na escuridão, mentalizo o seu sorriso para saber aonde seguir. Eu me lembro que você dizia que eu era sua maior motivação para continuar lutando contra o câncer, e é por respeito a sua luta, que eu sigo em frente.

Que Deus te dê um bom lugar mãe, e o guarde para mim, pois quando for a minha vez, te encontro por ai.




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